João Gigante: o artista por detrás do projeto PHOLE

A instalação “Amor Minhoto”, criada no âmbito da quarta edição do Pulsar Viana, inaugurou no nosso Centro no passado dia 18 de julho. Estivemos à conversa com o artista responsável pela sonoplastia da peça, que nos falou sobre o seu percurso e o seu trabalho.

Nascido e criado em Viana do Castelo, na pequena localidade de Perre, João Gigante cresceu “a ouvir os outros”. Abandonou a terra natal para estudar, mas voltou às raízes e foi aí que percebeu que “tudo aquilo que era importante a nível pessoal e profissional estava dentro das linhas que definem este carinhoso território”. E foi aí, na sua cidade – “lugar onde encontro matrizes que me ajudam a perceber o meu trabalho e o percurso que decidi tomar” – que nasceu o projeto PHOLE.

Desde cedo que João se começou a interessar pelos instrumentos musicais, daí a sua ligação ao Grupo de Danças e Cantares de Perre que o levou a “conhecer pessoas e melodias, a perceber o que é o material e imaterial, a rodear-me de vivências que me definem enquanto pessoa”. E se, no início, a música era feita com regras e muitas horas de prática, a interpretar as melodias dos outros, foi depois do curso universitário, na Faculdade de Belas Artes do Porto, que João tornou este mundo abstrato: “decidi voltar a pegar na minha concertina e a criar as minhas próprias narrativas. Hoje [a música] é mais uma linguagem, mais um veículo de discurso e aprendizagem”.

“A música existe em paralelo com um largo conjunto de ações que me definem enquanto autor. Mas foi no momento em que comecei a criar as minhas “narrativas” que percebi que devia colocar este projeto de vida numa outra camada, fazê-la mostrar-se perante um público que entende esta viagem sonora e o seu valor na contemporaneidade. Poder tocar é uma forma de me relacionar com aqueles que querem descodificar o meu discurso. Ser ouvido é o maior motivo e privilégio para poder continuar a ser aquilo que preciso enquanto pessoa, um tocador de concertina do “hoje”.”

 

Quanto à inspiração para o seu trabalho, João responde: “é o conjunto de ligações sociais, históricas e culturais ao meu lugar de origem e ao meu quotidiano. Confirmo todos os dias que a minha avó foi tão importante como Duchamp ou John Cage, cada um com o seu lugar. O interessante é quando misturamos tudo isto e o resultado é uma mescla de emoções e reações”.

E é precisamente isso que a instalação artística “Amor Minhoto” pretende transmitir. Criada por Pedro Amaral Ribeiro, a peça de arte pública construída em 3D, tem como protagonista o coração e mostra um casal apaixonado. A sonoplastia da instalação ficou a cargo de João Gigante – através do seu projeto PHOLE -, que criou a obra “Um Amor de Outro Mundo”. Apelando à imaginação do artista, quisemos saber: qual seria o futuro desta história de amor? “Vivemos numa cidade que se ama a si própria e isso é o gesto claro de um sentido de relação misteriosa pelo lugar onde nascemos e moramos. Amar é um gesto muito próprio (codificado) e é-me difícil criar ou recriar tal ação. Mas uma coisa é certa: depois do beijo e de uma dança de roda, a vida torna-se uma outra coisa. Talvez este casal tenha encontrado o seu lugar, ou a roda terá de voltar a “marcar”. A vida é mesmo isto, uma roda de relação e interpelações, onde o amor não é mais que o fecho desta dança a que chamamos vida”.

A peça estará patente na entrada sul do Estação Viana Shopping, junto à Estação de Caminhos de Ferro, até dia 30 de outubro, e “Um Amor de Outro Mundo” pode ser ouvido (e visto) todos os dias às 21h30.

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